Relendo “A Gaia Ciência” de Nietzsche, na tradução de Paulo César de Souza, acidentalmente abri em uma página [93] e um tema me deixou curiosa, que na leitura anterior não havia chamado minha atenção como agora, segue:
O desejo de sofrer. – Se penso no desejo de fazer algo, que incessantemente agita e estimula milhões de jovens europeus, incapazes de suportar o tédio e a si mesmos – compreendo que neles deve existir uma ânsia de sofrer algo, a fim de retirar do sofrimento uma razão provável para agira, para a ação. A aflição é necessária! Daí o clamor dos políticos, daí as muitas “crises” falsas, inventadas, exageradas, de todas as classes possíveis, e a cega propensão a acreditar nelas. Essa juventude requer que venha de fora ou se torne visível – não a felicidade, digamos, mas a infelicidade; e sua fantasia já se ocupa antecipadamente em formar um monstro a partir dela, para que depois possa combater um monstro. Se tais sequiosos de aflição sentissem dentro de si a força de interiormente fazer bem a si próprios, de fazer violência a si próprios, eles saberiam também criar interiormente uma aflição própria, pessoal. Então suas invenções poderiam ser mais refinadas e seus contentamentos poderiam soar como boa música: enquanto agora enche o mundo de seus gritos de aflição e muitas vezes, em conseqüência, do sentimento de aflição! Não sabem o que fazer de si mesmos – e desenham, portanto, a infelicidade de outros na parede: sempre necessitam de outros! E ainda e sempre de mais outros! – perdão, meus amigos, eu ousei desenhar minha felicidade na parede.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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