Wilton Garcia
Muito mais que criar a possibilidade de emanar erótica e desejo, o corpo torna-se a chave enigmática que suspende direcionamentos conceituais na fotografia.
Da poética à estética, a impressão visual do corpo é resgatada pelo registro fotográfico. Diante do ato fotográfico, a imagem corpórea equaciona a vivacidade humana e potencializa um resultado peculiar e satisfatório. Mas, como pensar o corpo na fotografia contemporânea perante as novidades tecnológicas? Mais que isso: quais perspectivas que associam o corpo como objeto/produto no mercado de consumo de bens e serviços? Como a energia corporal poderia ser captada pela máquina fotográfica?
Baseado nesses pressupostos, este texto pretende abordar algumas anotações acerca de o corpo na fotografia, cujo enfoque trata do contemporâneo. São anotações que fazem emergir um debate crítico e propõe, de certo ponto de vista, uma possível atualização de leitura acerca da fotografia. Procuro destacar as noções de flexibilidade e deslocamento – diluídas ao longo deste texto – como alicerces das diferentes produções de conhecimento, ao remeto a um olhar investigativo sobre a pesquisa da fotografia contemporânea. Realizo uma reflexão exemplificada por um breve panorama de minha experiência profissional como artista visual e pesquisador, na tentativa de contribuição sobre a fotografia atual.
Neste debate, os estudos contemporâneos são eleitos como eixo teórico-metodológico (Bhabha, 1998; Canclini, 1998; Eagleton, 2005; Gumbrecht, 1998; Hutcheon, 2000; Maturana, 1997) para fundamentação argumentativa. Tais estudos pesquisam as atualizações de conceitos e críticas, que se organizam mediante a produção de atualidades e vasculham uma (re)dimensão teórica e política, associada ao sistema flexível da linguagem – variações de cultura e representação (Garcia, 2005). As atualizações esboçam a área dos estudos contemporâneos em sua intensidade descritiva, quando aciona um olhar investigativo sobre as inovações no discurso contemporâneo.
Expectativas Corporais
Há uma matiz de resultados fascinantes entre a luminosidade da pele e o deslocamento do corpo que impera sobre a (des)construção de uma imagem técnica – armada pelo aparato fotográfico. É nesse encontro efusivo que o corpo passa a ser (re)tratado pela fotografia contemporânea. Registro da atividade humana, o corpo pode vivenciar uma potencialidade visual que a fotografia tenta documentar. O corpo é um assunto emergente na agenda contemporânea (Idem, 2006).
A noção de corpo, aqui, é elencada como dispositivo visual contemporâneo, cuja imagem corporal é absorvida pela fotografia. Com isso, desdobramentos poéticos e estéticos de afetividades, experiências e subjetividades transversalizam “novos/outros” produtos simbólicos e culturais no âmbito da arte, da comunicação e do design. A fotografia transita pelas malhas intertextuais de arte, comunicação e design. E o corpo, inevitavelmente, agora é abordado como superoferta imperdível do espetáculo vigente, ao se instaurar diante da metamorfose vital dos objetos midiáticos e mercadológico. Corpo mais que contemplado mostra-se como peça de consumo pela/para a fotografia!
De fato, as (inter)mediações do corpo na fotografia incorporam uma variante flexível de informações visuais intensas de subjetividade, cada vez mais complexa pela entrecruzamento de uma ação crítico-criativo.
Simultaneamente, é trazer à tona na arena da fotografia contemporânea uma antiga discussão que aproxima e, ao mesmo tempo, distancia prática da teoria ou vice-versa. Algo que enuncia, conceitualmente, a prática e a teoria.
Ou seja, é algo que oscila, constantemente, como o pêndulo de Michel Foucault. Acredito que, a questão da criação coabita uma leitura crítica interdisciplinar entre prática e teoria. Criticar e/ou criar são elaborações competentes e habilidosas que, tranqüilamente, permeiam um ambiente atualizador entre corpo e fotografia.
Nota-se que teoria e prática estendem saber e fazer. Elejo, portanto, a ação crítico-criativa como extensão de interstícios entre o saber e o fazer fotográfico, ainda mais ao ter o corpo como dispositivo visual-temático. Saber e fazer são duas etapas distintas, porém contingenciais, que se acoplam para se tornarem complementares. Neste bojo, a inscrição do corpo na fotografia, hoje, ocorre a partir de diferentes camadas de processamento tanto do ato crítico quanto do critavo.
O somatório desse processo (re)vela resultantes subjetivas que atualizam as (de)marcações do corpo na fotografia contemporânea. Tomo o ato criativo da fotografia como instância gerativa deste debate crítico, a fim de desenvolver uma leitura sobre a produção contemporânea.
Em meus trabalhos como artista e pesquisador, por exemplo, utilizo o corpo como tema recorrente de criações visuais e investigativas para abarcar o viés da ação crítico-criativa exposta na contemporaneidade. Corpo, estrategicamente, apontado em suas extensão discursiva da fotografia enquanto condição visual. Tento gerenciar minha experiência tanto ao lidar com o ato criativo de fotografia, vídeo e imagem digital como o texto crítico. Fico alerta à compreensão de estratégias visuais que possam ser abarcadas pelo discurso contemporâneo, uma vez que lido com questões técnicas e conceituais sobre o processo de criação. Penso na natureza visual do código imagético que absorve a influência da cultura digital.
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